Sobre os livros que li nas férias
Neste mês de julho, decidi colocar em dia algumas leituras que vinha guardando para um momento oportuno. Acontece que entramos de férias na minha faculdade e aproveitei para também agendar minhas férias no trabalho. Com isso, consegui finalmente iniciar (ou retomar) a leitura desses livros, um após o outro, com uma sede pela leitura que nunca havia sentido antes. Depois de um semestre com leituras mais técnicas, eu clamava por uma literatura mais leve, mais deliberada.
Comecei pela retomada de Também o cisne morre - Aldous Huxley, a primeira obra de Huxley que leio. É um caminho interessante, não iniciar por Admirável Mundo Novo, Contraponto ou A Ilha. Mas acredito que essa foi, entre suas obras, a que me mais me chamou atenção, e não me arrependi hora nenhuma da escolha. No livro, o autor debocha do milionário Joseph Stoyte. Debocha, na verdade, da caricatura do homem rico estadunidense. Quando discorre sobre questões profundas como a mortalidade, o tempo, e a dualidade entre o Bem e o Mal, o autor faz questão de escancarar como a preocupação dos personagens para com essas questões parte de uma lógica deturpada, de uma futilidade. Que estes assuntos estariam sendo, de certo modo, profanados pelas reais intenções dos personagens em suas buscas por tais respostas. Além disso, o final do livro é uma verdadeira joia e me impressionou bastante.
Logo depois, tive um grato convite para um novo clube de leitura, onde decidimos ler o livro Quem matou meu pai - Édouard Louis. Eu li este livro todo de uma vez, no mesmo dia, evitando todo e qualquer tipo de pausa. Tudo bem, é um livro pequeno, em uma hora e meia dá pra ler o livro todo. É um livro profundo, pesado, que toca em questões que mexem com a gente. Talvez eu diga isso porque consigo me identificar com a situação de Édouard e de seu pai. Consigo me identificar com a pobreza e a exploração, com o descobrir-se e a opressão da homossexualidade. Consigo me identificar com a revolta, com o sentimento de ter algo entalado na garganta.
Não consegui parar em Quem matou meu pai. Tive que correr para assistir à sua entrevista no Roda Viva. Tive que ler sobre o autor, stalkear seu instagram e, além disso, fiquei com uma imensa vontade de comprar todos os livros que ele já escreveu. É uma coleção. Eu não sou de ler livros físicos, tanto pela praticidade quanto pela grana. Mas esse me deu muita vontade de comprar.
Em seguida, li Monique se liberta - Édouard Louis. Confesso que esse livro me atravessou um pouco menos, mas também conversa com assuntos que vi e vivi de perto. A maneira como Édouard expõe essas histórias, com esse tom de denúncia, de quem escreve porque é necessário relatar para continuar vivendo, é realmente impressionante. Trata-se de como sua mãe conseguiu se libertar de uma relação tóxica com seu pai, e como posteriormente, mesmo depois após a primeira ruptura, se viu novamente presa a uma relação abusiva. O livro conta como se dá o processo dessa última libertação, agora definitiva, e assistida por Louis.
Depois de uma pequena pausa, decidi ler Nadando no escuro - Tomasz Jedrowski, que também estava na minha lista há um tempo e decidi colocar em dia. Fiquei instigado pela sinopse, pela ideia do romance proibido, em um lugar atravessado pela cortina de ferro, e confesso que esse tipo de história facilmente me atrai. Há algo no romance proibido, vivido clandestinamente, que me parece mágico. E é realmente isso que os personagens do livro vivem. Uma suspensão da realidade, uma chance de viver com o outro algo inimaginável. Confesso também que a parte política do livro me incomodou um pouco, sinto que é um discurso muito atravessado pelo neoliberalismo e pela propaganda ocidental. Mas é um livro mais leve e muito gostoso de ler.
Partindo pra uma história que não é muito minha praia, li A empregada - Freida McFadden, que é um livro de suspense e crime, que li por ser a sugestão deste mês do Clube Literar-se. E é um ótimo livro. A construção do suspense no livro é muito boa e faz com que você queira saber o tempo todo o que vai acontecer. Millie é uma ex-presidiária contratada como empregada na casa de Nina, que aparenta passar por um grave distúrbio psicológico. A Millie, então, passa por diversas situações abusivas, até que, no final, nos é revelado algo surpreendente sobre o que de fato acontecia com Nina. Por falar em final, acho que é aqui onde o livro peca bastante, acho que as explicações ficam muito convenientes, senão absurdas, e acabam jogando uma pá de cal no ótimo suspense que vinha se construindo.
Por final, li o livro Mentiras que contamos - Philippe Besson, uma verdadeira obra prima. Outro livro que aborda a homossexualidade e a sua impossibilidade. Um livro visceral, que expõe a vivência do autor em uma época onde isso impunha barreiras instransponíveis. É um livro que aborda também as consequências disso na vida de quem foi obrigado a viver essa situação e das pessoas ao seu redor. Besson escreve para lembrarmos sobre como essa impossibilidade de amar e ser amado deixa cicatrizes, mas também deixa rastros de beleza. Sobre a força e a coragem necessária para romper essa barreira. É um livro que me fisgou e que me fez chorar igual uma criancinha.