Laranja Mecânica 1971
Não tem como fazer uma crítica de Clockwork Orange ou dos filmes de Kubrick. São daqueles que já nascem perfeitos, portanto é um papel impossível tecer uma resenha que não caia em elogios redundantes ou na simples crítica pela crítica.
O cenário distópico e futurista punk do filme é um turbilhão de cores, formas e alegorias sexuais. A linguagem peculiar e as atuações marcantes somam-se à estranheza propositada que, embora desconfortável, é surpreendentemente fácil de assimilar, o que proporciona rapidamente uma grande imersão ao universo do filme.
A juventude rebelde, que é representada pelo protagonista do filme, comete todo tipo de atrocidades, mesmo vivendo uma época onde há uma forte ascensão de um governo completamente autoritário. Talvez o fruto desta revolta seja justamente uma reação visceral à opressão política e cultural, um grito de indignação contra o status quo, mas o ódio sem organização é contraproducente.
O filme mira no behaviorismo com suas críticas, mas tropeça ao representar a teoria de Skinner, o que se apresenta como um dos seus poucos deslizes. O autor do livro que o dá origem, defende que usar de nosso livre-arbítrio para escolher entre o bem e o mal é, então, ser como uma laranja mecânica: bela, colorida, suculenta, mas ainda assim, apenas um brinquedo a ser controlado. Com isso, o autor conclui que o mais importante, no livre-arbítrio, é a escolha moral.
E é justamente essa cultura do medo imposta pelo Estado capitalista e autoritário do filme, que virá a tolher a liberdade de seus cidadãos, ao impor regras rígidas e práticas cada vez mais opressivas. Não há a possibilidade de realizar uma escolha moral quando as determinações para esta escolha são fruto de elementos autoritaristas e opressivos.
Portanto, quando Alex se submete ao tratamento Ludovico, ele se conforma aos ideais do regime ditatorial, perdendo, assim, a capacidade de exercer suas vontades livremente e de encontrar uma redenção verdadeira por seus atos passados.
Review no Letterboxd: ‘A Clockwork Orange’ review by Igor Frade • Letterboxd