Coringa Delírio a Dois

Ao contrário das críticas recebidas no lançamento, eu adorei o filme Coringa: Delírio a Dois. O filme, que continua a história de Arthur Fleck, agora não mais um sujeito atormentado pelo seu delírio, mas um fugitivo, ou melhor, um refém de seu próprio alter-ego, o Joker, é uma crítica ao próprio filme que o deu origem, e também à sua audiência.

Neste filme sequência, vemos a tentativa de Arthur em negar o legado que o próprio criou. Em sua revolta contra seu passado e a sociedade que o fez quem é, Arthur dá a luz a Joker, um produto de sua insanidade mas também de sua própria história de vida. Essa máscara, ou alter-ego, que o maquia da realidade e o apresenta como um sujeito antissistêmico, é na verdade talvez a única possibilidade que este mesmo sistema reservou para Arthur.

E assim como a população de Gotham, que gostaria de ver mais de sua irreverência, do absurdo, e da violência crua de Joker, os próprios críticos, ou fãs do Joker dos quadrinhos, se vêem revoltados por não ter correspondido a sua ânsia pelo Coringa que conhecem: o espantalho vilão que traria o caos à cidade.

Este é um filme impossível, pois só é bem sucedido se criticado pela audiência, só funciona pois é a própria crítica ao que aprisiona Arthur ao seu personagem Joker. A audiência clama pela irreverência de Coringa. A mesma audiência que se apaixona pelo true crime e se alimenta do espetáculo. Este é um filme impossível porquê se vê preso em um ciclo de autoperformance e validação externa que Arthur.

Ninguém quer saber do coitado Arthur Fleck. Assim como a sociedade do espetáculo não quer ser alimentada por um filme que explore a dualidade e a complexidade de seu personagem. Coringa: Delírio a Dois é uma reflexão sobre o papel da arte e do entretenimento na sociedade moderna.