As I Was Moving Ahead, Ocassionally I Saw Brief Glimpses Of Beauty 2000

Há filmes que se contam. Outros que se lembram. E há este, que simplesmente vive. Ele deriva, se arrasta, retorna, repete. Como se a vida, para ser sentida, precisasse ser reencontrada em fragmentos, em restos de luz, em sorrisos tremidos ou em vozes abafadas pelo tempo.

O filme opera como um diário feito a partir de sobras. Não há grandes eventos, nem marcos. Há o cotidiano em sua forma mais crua: aniversários, passeios, rostos comuns. O que se constrói é um inventário da intimidade, onde o valor das imagens não está no que mostram, mas no fato de terem sido guardadas.

O tempo aqui não é cronológico, é afetivo, assim como nosso inconsciente. Cada repetição, cada corte brusco, cada sobreposição de imagens cria uma memória que não pertence só a Mekas. Aos poucos, começamos a lembrar daquilo que nunca vivemos, a reconhecer uma intimidade que não é nossa, mas que se torna.

A proposta não é uma explicação da vida, mas uma forma de habitar o tempo. Uma tentativa de organizar o caos da existência em pequenos blocos de sentido. E talvez seja isso o que resta da experiência: flashes, ruídos, cenas soltas. O que conseguimos carregar enquanto tudo segue se movendo adiante.


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