Um filme onde a natureza não é cenário, mas personagem. Está presente em cada ruína, cada raio de sol filtrado por entre as árvores, cada camada de névoa que paira sobre os bambuzais. Há um magnetismo próprio em seu silêncio, como se ela sussurrasse segredos que os personagens nunca poderão ouvir por completo, mas cuja presença os move.

O que parecia ser um simples filme de ação e fantasia se torna uma contemplação sobre o destino, sobre a violência e sua suposta justiça, sobre a impossibilidade da paz num mundo atravessado por disputas de poder. Há um jogo constante de inversões. O protagonista vence não pela espada, mas pela astúcia. O monge medita, mas sangra e derrama sangue. A mulher ama, mas parte. O amor não redime, não salva, não permanece. Nada termina como se espera.

Ao fim, resta a imagem do monge, imóvel diante da vastidão. Não como resposta, mas como quebra de ritmo, como recusa. É o gesto de quem não pretende encerrar nada, apenas sustentar o vazio por mais alguns segundos. Talvez o zen não esteja na iluminação, mas no desconforto. No silêncio depois da luta, no rastro que ninguém segue, no caminho que não leva a lugar algum, mas que, ainda assim, foi trilhado.


Review no Letterboxd: ‎‘A Touch of Zen’ review by Igor Frade • Letterboxd